A visão da Ortodoxia Cristã Russa sobre a falsa divindade que governa o século, o demiurgo do anticristo que controla o mundo
Por Célio Azevedo | Filosofia do Caos
A Tradição Ortodoxa, fiel guardiã da fé dos Apóstolos, não hesita em proclamar aquilo que já foi dito por São Paulo há dois milênios: “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos” (2 Cor 4:4). Este “deus”, grafado com minúscula, pois não é divino, é identificado pela Santa Igreja como o diabo, o pai da mentira, aquele que usurpa o lugar do Criador no coração dos homens e nas estruturas do mundo decaído.
Na teologia ortodoxa, o mundo não é mal por natureza, pois tudo que Deus criou é bom. Contudo, após a queda de Adão, o mundo entrou numa condição de corrupção, tornando-se terreno fértil para o domínio das trevas. Para o mundo, o dinheiro tornou-se o seu novo “deus”. É nesse ambiente que o maligno age com sutileza e sedução, oferecendo falsas luzes, falsas liberdades e falsos deuses: o poder, o prazer, o dinheiro, o controle, o egocentrismo.
O patriarca ortodoxo russo Cirilo já alertou que o mundo moderno construiu “uma civilização onde Deus foi substituído pelo homem, e o homem foi substituído pelo consumo e pelo vazio espiritual”. É neste vazio que o adversário se entroniza como “deus”, manipulando sistemas políticos, culturais, econômicos e espirituais que afastam as almas da Verdade.
Na falsa luz e a cegueira espiritual, ou seja, a espiritualidade hesicasta, tão central à Ortodoxia, aprendemos que o maior perigo não está fora, mas dentro do coração. E é no coração cego que o diabo sussurra suas mentiras. Ele não se apresenta como monstro, mas como anjo de luz. Ele inspira ideologias “humanistas” que negam a cruz, movimentos religiosos que pregam prosperidade sem arrependimento, e filosofias que rejeitam a eternidade em nome do hedonismo imediato.
O “deus deste mundo” é, portanto, um simulacro do verdadeiro Deus, uma caricatura construída para aprisionar, confundir e corromper.
Não obstante, na tradição espiritual da Rússia Ortodoxa, de São Serafim de Sarov a São João de Kronstadt, o combate a este falso deus se dá pela ascese, pela oração incessante, pela vigilância do coração e pela participação nos santos mistérios. Não há neutralidade espiritual: ou servimos ao Deus verdadeiro, ou caímos nas seduções do inimigo.
A Ortodoxia, com sua liturgia celeste e sua espiritualidade profunda, não é apenas um refúgio, é uma resistência ativa contra a dominação do maligno sobre as estruturas do mundo. A Igreja não se adapta ao século; ela o transforma pela graça.
Em suma, Deus não é o mundo. O deus falso desse mundo é o diabo. Para os que têm olhos de ver, torna-se evidente: o mundo jaz no maligno (1 João 5:19). O verdadeiro Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, reina eternamente. O deus deste mundo é uma sombra, cujo tempo está contado. Cristo venceu a morte. E com Ele venceremos.
Célio Azevedo - filósofo, jornalista internacional e influenciador geopolítico.