Rússia, Moscou: A Nova e Terceira Roma


A Terceira Roma é a ideia de que o cristianismo ortodoxo russo seria o sucessor contemporâneo do legado do Império Romano. A Primeira Roma seria a própria cidade de Roma, centro do Império Romano, já a Segunda Roma seria a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente), o estado sucessor do Império Romano. O conceito de Terceira Roma, pelo sentido histórico, deve então assim denominar o estado sucessor do Império Bizantino.

“Gostaria de lembrá-los que o que foi chamado ‘Novorossiya’ nos antigos dias czaristas — Kharkiv, Luhansk, Donetsk, Kherson, Nikolayev e Odessa — não fazia parte da Ucrânia. Aqueles territórios foram dados à Ucrânia nos anos 1920 pelo governo soviético. Por quê? Quem vai saber. As pessoas vivendo ali expressaram sua vontade de retornarem à família durante os dias da Primavera Russa.” Vladimir Putin

A “Nova Rússia” não é um termo inventado por Putin. Historicamente, esse nome se refere a uma região dentro do Império Russo, que compreendia partes do que hoje são o leste e o sul da Ucrânia, incluindo a Crimeia. Com a Revolução Russa e o fim da monarquia, teve início a guerra civil, e a Ucrânia foi uma das principais frentes de combate — as forças locais, que queriam se livrar do domínio de Moscou, foram derrotadas pelo Exército Vermelho, e o território, incorporado à União Soviética, agora sob o nome de República Socialista Soviética Ucraniana.

Segundo Putin, o grande erro de Vladimir Lenin foi ter permitido a “criação” desse Estado-satélite, com um idioma próprio, uma identidade própria e, mais importante, com territórios que ele considera serem parte integrante da Rússia.

“A Ucrânia moderna foi inteiramente criada pela Rússia, mais especificamente pela Rússia bolchevique e comunista “ Vladimir Putin

Uma das primeiras declarações conhecidas de desdém de Putin em relação à Ucrânia foi feita em uma reunião do hoje Conselho Rússia-NATO, em 2008. Segundo o jornal Kommersant, citando uma fonte com acesso a um encontro fechado, Putin virou-se para o então presidente dos EUA, George W. Bush e disse:

— George, a Ucrânia nem é um Estado. O que é a Ucrânia? Parte de seus territórios é da Europa Oriental, e uma parte significativa foi doada por nós — afirmou, segundo o Kommersant, ao expressar sua oposição a uma eventual entrada do país na NATO/OTAN.

O conceito da Nova Rússia ganhou os discursos anos depois, por influência do filósofo Alexander Dugin, considerado um dos mentores intelectuais de Vladimir Putin. Para Dugin, o sul e o leste da Ucrânia são partes integrantes da civilização russa, e por isso devem voltar a fazer parte da Rússia. Ele considera que uma Ucrânia independente é um perigo existencial, que o controle do Mar Negro é “absolutamente imperativo”, e que o país vizinho deveria ser “um setor administrativo de um Estado centralizado russo”.

A visão de Dugin foi eventualmente abraçada por Putin e serviu como um dos pilares teóricos da guerra ou operação militar especial: para o líder russo, a Nova Rússia deveria “retornar” ao jugo russo. Esse novo Império poderia vir futuramente de Lisboa ao Alasca.

“Nós nunca permitiremos que nossos territórios históricos e povos próximos de nós vivendo ali sejam usados contra a Rússia. E aqueles que tentarem fazer isso, gostaria de dizer que, dessa forma, vão destruir seu próprio país”, escreveu Putin em seu artigo “Sobre a união histórica entre russos e ucranianos”, de 2021.

— A Ucrânia é definitivamente Rússia — disse Medvedev. — As partes históricas precisam voltar para casa.

Putin refere-se abertamente a alguns dos territórios conquistados na Ucrânia como “Nova Rússia”, no caso, Kherson e Zaporíjia — ele cita Donetsk e Luhansk como “Donbass”, nome histórico daquela área no Leste.

Por fim, a OTAN/NATO não deve continuar financiando guerras ao redor do mundo contra a Rússia.




“Todos os textos por filósofo Célio Azevedo.”