O Que é o Nada?


O Nada é um conceito normalmente usado para descrever a ausência de qualquer coisa.

Na filosofia moderna:

Ao pensar-se no “nada”, associamos à nossa mente a ausência de qualquer coisa que seja, o vazio absoluto. O nada foi pensado como conceito pelos filósofos que questionavam inclusive se "o nada existe?". Ao definir o nada como a ausência de qualquer coisa, então do próprio existir, Kant apresentou a existência do nada como um "pseudoproblema", uma falsa questão. Sartre, que era ateu, vai tratar o nada em oposição ao ser, que é o existir de algo. Heidegger, cujo pensamento foi influenciado pelos místicos, trata em sua aula inaugural, "Que é Metafísica?", que a pergunta fundamental da metafísica é "por que existe o ser e não o nada?" (ou "por que existe afinal ente e não antes nada?"), e esta pergunta, pelo cosmólogo brasileiro Mário Novello, também é a pergunta fundamental da cosmologia, quando tenta tratar como surgiu o universo, que seria o maior objeto que a ciência pode tratar.

Na física:

Fisicamente é preciso distinguir três coisas: o vácuo, o vazio e o nada. O vácuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria, nem sólida, nem líquida, nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria escura. Mas pode conter (isto é se o conceito de conter, puder ser aplicado aqui) campos: campo elétrico, campo pseudo-magnético, campo gravitacional, luz, ondas de rádio, raios X, ou outros tipos de radiação bem como outros campos e a denominada energia escura. Pode também estar sendo atravessado pelas partículas não materiais mediadoras das interações. O vácuo possui energia e suas flutuações quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e antipartícula.

O vazio seria um espaço em que não houvesse sequer matéria, campos (não gravitacionais) ou radiação. Mas no vazio haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo, ainda que não houvesse nenhum objeto para preenchê-lo. Todo o espaço, mesmo que não contenha matéria, é preenchido por campo gravitacional.

No nada não existe nem o espaço, isto é, não há coisa alguma nem um lugar vazio para caber algo. O conceito de nada inclui também a inexistência das leis físicas que alguma coisa existente obedeceria, dentre elas a conservação da energia, o aumento da entropia e a própria passagem do tempo. Sendo o espaço o conjunto dos lugares, isto é, das possibilidades de localização, sua inexistência implica na impossibilidade de conter qualquer coisa. Isto é, não se pode estar no nada. O nada é, pois, um não-lugar.

Por definição, quando se fala de existência se fala da existência de algo. O nada não é coisa alguma, logo não existe. O nada é um signo, uma representação linguística do que se pensa ser a ausência de tudo. O que existe são representações mentais do nada. Como uma definição ou um conceito é uma afirmação sobre o que uma coisa é, o nada não é positivamente definido, mas apenas representado, fazendo-se a relação entre seu símbolo (a palavra "nada") e a ideia que se tem da não-existência de coisa alguma. O "nada" não existe, mas é concebido por operações de mente. Esta é a concepção de Bergson, oposta à de Hegel, modernamente reabilitada, de que o nada seria uma entidade de existência real, em oposição ao ser.

O nada e a cosmologia moderna:

Dentro de determinadas teorizações em Cosmologia, como de acordo com o modelo padrão da cosmologia (o Big bang), o Universo surgiu de uma singularidade primordial que, no instante zero, iniciou sua expansão, gerando tudo o que existe, inclusive o tempo e o espaço. Nesta singularidade estava todo o conteúdo de matéria-energia que existe. Antes, porém, não havia coisa alguma, nem vácuo, nem energia, nem leis físicas, nem espaço vazio para se ter alguma coisa nem mesmo o tempo decorria. Seria o nada.

Porém, existem determinadas teorizações que afirmam que o Big Bang não produziu o universo a partir do nada e sim a partir de um estado anterior que pode inclusive ser a contração de um universo anterior. A estes modelos cosmológicos, chamam-se modelos cíclicos, genericamente. Entre os diversos existentes, destacam-se o modelo cíclico e suas diversas variações, o modelo de Big Bounce (grande "rebote") e o modelo universo oscilante. Nestes modelos, sem exceção, o que seja o Big Bang é apenas um ponto inicial de onde o universo iniciou sua expansão, estando ali em alta densidade e temperatura, até chegar a sua atual apresentação no presente. Nestes modelos, sem exceção, o universo seria eterno (e até, com definições mais complexas do que seja esta eternidade) e sempre existiu, jamais se originando do nada. Em outras palavras, sempre teria existido algo.

Todavia, existe uma evidência matemática criada por Audrey Mithani e Alexander Vilenkin, da Universidade Tufts em Massachusetts, EUA, que se utiliza da mecânica quântica para demonstrar que o universo tem que ter tido um começo. Uma demonstração mais simples seria a seguinte: imagina-se, por exemplo, um átomo de silício que faz parte do vidro do monitor de um computador. Para que o ser que compõe este átomo esteja ai, ele teve que participar de uma série de fenômenos até chegar onde está. Obviamente, esses fenômenos ocorreram num período de tempo, que pode-se chamar de X. Admitindo que o ser que compõe este átomo teve um início, X é um número que, por maior que seja, é limitado, possibilitando que esse tempo X se esgote. Quando o tempo necessário para que o átomo esteja no monitor se esgotar, o átomo estará no monitor. Porém, se X for igual a infinito, (condição para que o universo seja sem começo), esse período de tempo nunca se esgotará, e o átomo nunca estaria fazendo parte do monitor.

Aplicando o mesmo princípio para o atual estado do universo, sabe-se que se ele não tiver um início, podemos traçar trajetórias infinitas para o ser (ou os seres) que compõe o universo, até que as coisas alcancem seu estado atual. Mas uma trajetória infinita nunca pode ser percorrida por completo, o que impossibilita a existência das coisas no tempo presente ou em qualquer outro tempo determinado.

Na gramática:

Em gramática, pode ser tanto para descrever a falta de argumentos como para descrever algo que não se encaixou no pretendido. Exemplos:

    Ele disse nada.

    Neste caso, ele não disse nenhuma palavra.

    Ele disse nada do que eu pedi.

    Neste caso ele disse algo, mas nada que se encaixou no pretendido.

Na matemática:

Matematicamente o conceito de nada é equivalente ao de "conjunto vazio", que é o conjunto que não possui elementos, mas é um elemento do conjunto dos subconjuntos de um conjunto (chamado de conjunto das partes). Assim este "nada" matemático, seria sempre um dos elementos de qualquer conjunto. Esta concepção, aplicada à física, todavia, não possui base fenomenológica sustentável, pois a física não é a matemática em si, embora se possa tratar as coisas físicas por modelos matemáticos, ou modelos físico-matemáticos, construindo-se física.

Deve-se destacar que um ponto, da geometria, que não possui dimensão, também não pode ser associado ao conceito de "nada" diretamente, pois sendo um ponto, não pode ser o nada plenamente definido na Filosofia.

Algumas referências:


Caputo, John D. (1986), The Mystical Element in Heidegger's Thought. Fordham University Press, New York.
Martin Heidegger; QUE É METAFÍSICA?; 1929 - www.cfh.ufsc.br
Sartre, O Ser e o Nada.
MARIO NOVELLO; O que é cosmologia?: A revolução do pensamento cosmológico; Jorge Zahar Editor; Rio de Janeiro; 2006 ISBN 8571109125