Ideologia, História e a Verdade: Do Socialismo ao Liberalismo



O que é ou foi o socialismo?

De acordo com o dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o socialismo seria um modo de produção, uma forma determinada em um dado momento histórico da civilização de se produzir a vida, e suas variações significam formas diferentes de relação homem-natureza e homem-homem. Na denominação genérica, seria um conjunto de teorias sócio-econômicas, ideologias e práticas políticas que postulam o fim das desigualdades econômicas entre as classes sociais, ou a completa abolição do conceito de classes, na transformação do sistema econômico.

Ainda no dicionário Aurélio, o comunismo é um sistema econômico que nega a propriedade privada dos meios de produção, após o socialismo, baseando-se na propriedade coletiva. Num sistema comunista, os meios de produção são socializados, ou seja, a produção da propriedade da sociedade é propriedade da mesma, que pertence à classe trabalhadora.

Para se avaliar o que é o socialismo e o comunismo, pode-se notar a maneira como estes termos surgiram como ideologia: Antonio Gramsci definiu a ideologia, em seu livro Concepção Dialética da História, como um sistema de idéias , pois existiram várias definições sobre esse termo. Segundo Gramsci (1981), a significação original da ideologia era a de uma “ciência das idéias” e, já que a análise era o único método reconhecido e aplicado pela ciência no século XVIII, a ideologia significava então uma “análise das idéias”, isto é, uma “pesquisa da origem das idéias”.

Para Gramsci, a maneira pela qual o conceito de ideologia como “ciência das idéias” ou “análise sobre a origem das idéias” passou a significar um determinado “sistema de idéias” precisa ser examinado historicamente, já que logicamente o processo é fácil de ser analisado e compreendido.

Althusser (2003) diz em Aparelhos Ideológicos de Estado que a ideologia não é nada mais que puro sonho e que esta não possui história, o que não quer dizer que esta não possua uma história, mas também não teria uma história sua, ou seja, geral.

A ideologia seria uma representação da relação imaginária dos indivíduos com suas condições reais de existência, como a ideologia religiosa, a ideologia moral, a ideologia jurídica, a ideologia política, entre outras, que seriam concepções de mundo.
Portanto, ao se admitir que estas não corresponderiam à realidade e sim a uma ilusão, pode-se admitir que elas se referem à realidade e que bastaria interpretá-las para encontrar, sob a representação imaginária do mundo, a realidade desse mundo, em uma junção: ilusão e alusão.

Ainda em Althusser (2003), a ideologia interpelaria os indivíduos, e que só haveria ideologia pelo sujeito e para o sujeito, ou seja, a ideologia existiria para sujeitos concretos, e esta destinação da ideologia só seria possível pelo sujeito, ou seja, sua categoria e funcionamento.

Todos seriam sempre sujeitos e que, enquanto tais, praticariam interruptamente os rituais do conhecimento ideológico, que garantiria que todos são sujeitos concretos, individuais e, inconfundíveis. Porém, o reconhecimento de que seriam sujeitos, através dos rituais práticos da vida cotidiana (mesmo ao ignorá-los) daria a todos apenas a consciência da prática eterna do reconhecimento ideológico. Para se chegar ao conhecimento científico do mecanismo para este reconhecimento seria preciso esboçar um discurso que tentasse romper com a ideologia, pretendendo ser o início de um discurso científico, isto é, sem sujeito, acerca da ideologia.

O filósofo francês Michel Pêcheux (1997) adota o termo aparelho ideológico de Estado de Althusser para dizer que as ideologias não seriam feitas de idéias, e sim, de práticas, e afirma que a ideologia não se reproduz sob a forma geral da mentalidade de uma época, que se imporia de maneira igual e homogênea à sociedade, como espaço anterior à luta de classes, pois os aparelhos ideológicos de Estado não seriam a realização da Ideologia Geral e nem mesmo a realização sem conflitos da ideologia da classe dominante.

Portanto, seria impossível atribuir a cada classe sua ideologia, que não se torna dominante “pela graça do céu”, mas sim que os aparelhos ideológicos são os meios para que a ideologia se torne dominante.

Os aparelhos ideológicos de Estado não seriam puros instrumentos da classe dominante, já que estes constituiriam, o lugar e as condições ideológicas da transformação das relações de produção, ou seja, da revolução no sentido marxista e leninista .
De acordo com Althusser, o estabelecimento dos aparelhos ideológicos de Estado não se daria por si só, muito pelo contrário, estes aparelhos seriam os espaços para luta de classes.

Ainda em Pêcheux (1997), a dominação da ideologia da classe dominante, que seria caracterizada no nível ideológico, pelo fato de que a reprodução das relações de produção subjugaria sua transformação, corresponde menos à manutenção do idêntico de cada região ideológica considerada em si mesma do que a reprodução das relações de desigualdade-subordinação entre essas regiões . Ou seja, Althusser teria adiantado a tese de que o conjunto dos aparelhos ideológicos de um Estado capitalista poderia também ter sindicatos e partidos políticos, e que estes meios teriam a função subordinável de funcionar como reguladores e mediadores entre classes sociais adversárias.

Já o conceito de hegemonia que Gramsci (1999) defende, de acordo com seu livro Cadernos do Cárcere, é de que esta é o oposto da idéia de dominação. Uma fase de nova formação social e histórica não se resultaria da imposição de uma parcela da sociedade sobre a outra, e sim, de um complexo sistema de relações e de mediações, isto é, uma completa capacidade de direção.

Gramsci (1999) descreve às maneiras e aos meios por quais a filosofia existe na política, em seu movimento ou passagem da filosofia à política. O Estado não seria um mero instrumento ou controle burocrático e administrativo para regular e limitar a vida social, e sim, ético-político, um “todo integral” que simultaneamente incluiria e refletiria a cultura e o pensamento de um determinado povo.

De acordo com o autor, o Estado incluiria a cultura e a violência, o ethos e os kratos, a filosofia e o poder, a hegemonia e a ditadura, a sociedade civil e a sociedade política. É necessário observar que o momento ou o aspecto burocrático não estariam expressos, mas seriam feitos nas esferas da sociedade civil e da hegemonia.

Ao mesmo tempo em que, se a filosofia tiver sido transformada na política e assim acontecer na realidade do Estado, é porque a política foi capaz, na força e vontade, de se mover do particular para o universal, ou seja, um grupo social é dirigente e hegemônico quando este transforma os seus interesses particulares em interesses gerais.

Ainda em Gramsci (1979), em seu livro Os intelectuais e a organização da Cultura, o autor critica a concepção de que os intelectuais ficariam responsáveis, como uma espécie de comissários do grupo dominante, pelo exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político, estando esta idéia ligada a preconceitos de casta , na qual os intelectuais ficariam responsáveis para a criação do consenso espontâneo nas grandes massas da população à orientação impressa pelo grupo fundamental no poder e na coerção estatal.

A história do socialismo tem origens ainda mais distantes. Para muitos autores como Karl Marx e Rosa Luxemburgo , o comunismo já existia bem antes do próprio capitalismo.

Segundo Karl Marx (1848), um tipo de comunismo já teria existido em sua forma primitiva antes mesmo da aparição do Estado e da sociedade de classes, onde que a sobrevivência da comunidade dependeria do trabalho coletivo e como a inviabilidade técnica impediria a produção de excedente, não havia possibilidade de existir a propriedade privada na época, evitando assim as relações de exploração.

O tipo de relação entre os seus praticantes era comum a de uma família. Esse modelo teria sido derrotado por conta das próprias condições históricas, com o aparecimento do Estado e das primeiras relações de exploração humana.

Rosa Luxemburgo (1905) afirma que na época dos apóstolos romanos também existiu uma outra forma de comunismo, o próprio clero que criticava o comunismo no início do século XX, condenava na verdade, os primeiro apóstolos , pois estes seriam os comunistas na época do declínio do império romano, no comunismo cristão.

Segundo Luxemburgo, na época de Cristo, existia uma massa gigantesca de pobres, e uma minoria rica que desfrutava das boas condições e o lucro que esta desigualdade social fornecia na época, com os seus luxos.

Na Roma antiga teria surgido a religião cristã, e como não havia saída para o povo, este teria buscado a religião como uma forma de amenizar a sua fome. Dessa maneira, a religião cresceu e se transformou, logo de início, na religião dos trabalhadores romanos. Segundo a autora, o Cristianismo defendia a propriedade em comum, ou seja, o comunismo cristão. Assim, a igreja católica poderia propor a igualdade de todos os homens.

As pessoas precisavam de meios de subsistência e morriam de fome. Como o Cristianismo defendia o povo e para que os ricos dividissem as suas riquezas com os pobres, essa religião obteve muita aceitação.

Ainda em Luxemburgo (1905), nota-se que os trabalhadores romanos não viviam do trabalho, apenas viviam da esmola que o despótico fornecia. As exigências dos cristãos sobre a coletivização da propriedade não diziam respeito aos meios de produção, mas aos bens de consumo. As casas, roupas, alimentos, os instrumentos de trabalho e tudo mais aquilo que se precisa para a vida não eram propriedade coletiva.

O Cristianismo teria acreditado que podia remediar a miséria dos trabalhadores por meio das riquezas fornecidas por quem as possuía, porém, era incapaz de melhorar a situação econômica da sociedade, não havendo como funcionar também essa proposta de comunismo.

Marx analisou o desenvolvimento histórico do socialismo e atualizou a dialética de Hegel, que foi a primeira a defender que a verdade se constituía em um todo da realidade, passando a defender então a fluidificação dos conceitos, pois a realidade estaria sempre adquirindo novas formas.

Assim, surgiu o materialismo dialético, que propõe que as leis do pensamento correspondam às leis da realidade. De acordo com Marx, os problemas do mundo não estariam mais centrados nos indivíduos e sim, na “luta de classes” em uma sociedade - então dividida pelas duas, a burguesia e o proletariado (MARX, 1872).

Friedrich Engels, que era de uma família de industriais, se aproximou de Marx quando era estudante de direito e foi co-autor de diversas obras, inclusive lhe fornecendo ajudas financeiras para publicação. Escreveu ao lado de Marx, o “Manifesto Comunista” , “A sagrada Família”, “Ideologia Alemã”, além de diversas edições póstumas, em livros II e III - do Capital. Engels também escreveu clássicos como “Dialética da Natureza”, “Anti-Dhuring”, “Ludwig Feuerbach, e o fim da filosofia alemã”, além de outras obras relacionadas ao próprio desenvolvimento do marxismo.

Nota-se que nesta época o debate acerca do socialismo era constante, apesar das imposições do sistema contra o modelo de pensamento que já existia desde o comunismo primitivo ou cristão, porém, era preciso agora se organizar politicamente, a fim de aplicar na prática essa proposta. Marx dizia que os filósofos se limitaram até os dias de hoje a interpretar o mundo de diversas maneiras. A questão, porém, seria transformá-lo (Marx, 1845).

No Manifesto Comunista, Karl Marx afirma que a história de todas as sociedades que existiram até a nossa época é a história da luta de classes. Homens livres e escravos, nobres e plebeus, opressores e oprimidos se enfrentaram sempre e mantiveram uma luta constante (Marx, 1872). Ou seja, as batalhas políticas que se seguem na história das civilizações são em decorrência dos conflitos sociais os quais acontecem em razão dos interesses conflitantes por duas classes opostas uma ao outra. As elites, na sociedade capitalista, determinam os meios de produção, ou meios de trabalho, que são:

• os instrumentos de produção: máquinas e ferramentas, instalações, edifícios e silos, etc;

• as fontes de energia usadas: elétrica, nuclear, eólica, etc;

• os meios de transporte, e os objetos de trabalho, que são os elementos nos quais o trabalho humano utiliza, como matérias-primas, minerais, vegetais e animais, o solo, etc;

• e há os que estão hierarquicamente abaixo das elites, trabalhando nesses meios de produção, o proletariado. Essa luta de classes aconteceria em todos os países do mundo;

A primeira concepção de socialismo debatida por Marx, juntamente com Friedrich Engels, é o do chamado “socialismo reacionário”, mais conhecido como o socialismo feudal, no qual, a aristocracia francesa e inglesa escrevia contra a burguesia após a Revolução Francesa, de julho de 1830. Como a nobreza já havia sido derrotada politicamente, praticavam então apenas uma luta intelectual.

O socialismo “pequeno burguês” também pregava a volta de uma pequena classe de antes da Revolução Francesa ao poder, como os pequenos agricultores e os que eram contra as cidades medievais. Nos países poucos desenvolvidos que ainda possuem o capitalismo atrasado, esta categoria de “classe” continua consumindo as sobras do regime anterior, distante da burguesia no auge, como por exemplo, em armazéns, nas biroscas, etc. Sismondi seria o seu principal representante teórico (Marx, 1872).

O socialismo “conservador burguês” seria uma espécie de “pregação” por parte da classe dominante burguesa, a qual busca amenizar os problemas sociais, com o único objetivo de se manter poderosa. Os seus representantes seriam os economistas, filantropos, humanistas, os protetores de animais, etc, que querem manter o capitalismo sem que haja problemas maiores, como revoluções (Marx, 1872).

Esse socialismo pode ser observado no vertiginoso crescimento das Ongs por conta do neoliberalismo em países como a América Latina, por onde o Estado Liberal Burguês supre suas deficiências através dessas organizações.

O socialismo utópico, formulado por Saint Simon, defendia que era preciso reformar a sociedade a partir da boa vontade de todas as pessoas. Os ideais desse tipo de socialismo já existiam desde o século XVI, através de autores como Thomas More e Tommaso Campanella, que imaginavam uma sociedade de iguais.

Apesar de a Revolução Francesa ter consagrado a expressão “liberdade, igualdade e fraternidade”, sabia-se que igualdade não existia numa sociedade muito dividida entre ricos e pobres. A liberdade que existia, no entanto, era a de mercado, com o burguês livre para explorar o trabalhador.

Devido às condições econômicas de um capitalismo que vinha se desenvolvendo desde a Revolução Industrial, chegou-se à conclusão de que a livre concorrência desencadeou uma ordem injusta e imoral. Segundo Marx, o socialismo utópico defendia os trabalhadores derrotados politicamente logo após o fim do feudalismo no mundo (MARX, 1872).

Portanto, este modelo foi derrotado por conta de se expor os princípios desse tipo de socialismo sem, no entanto, demonstrar quais eram os meios para se atingir a sociedade ideal.

De acordo com Karl Marx (1848), é possível que muitos desses movimentos concordassem, de fato, com algumas propostas do socialismo defendendo, por exemplo: o fim das diferenças entre a cidade e o campo, o fim da concepção da família burguesa, do lucro, do trabalho assalariado , a proclamação do socialismo, a planificação social, porém estes movimentos apenas teriam se transformado em utopias, já que apenas a pregação das idéias, sem nenhuma luta política, não daria certo, virando seitas, e retardando assim o desenvolvimento da luta de classes.

Karl Marx e Friedrich Engels tiveram a iniciativa de continuar desenvolvendo o termo do socialismo, inserindo no mesmo, uma série de alterações que visavam aperfeiçoar a sua viabilidade prática. Mais tarde ficou conhecido como marxismo ou socialismo científico. Este prevê o desenvolvimento do proletariado no mundo, de maneira que seria possível no futuro realizar a revolução proletária e internacionalizá-la, pois já seria hora dos comunistas exporem, à face do mundo inteiro, as suas concepções, os seus fins e as suas aspirações (Marx, 1872).

Na década de 1860, com o avanço do capitalismo no mundo e com o crescimento da classe do proletariado urbano, lideranças sindicais e ativistas sociais da época pensaram em fundar uma organização que unisse os sentimentos dos trabalhadores e das classes oprimidas.

A Associação Internacional dos Trabalhadores é criada então em 1864, em Genebra, como uma necessidade de organização dos trabalhadores sindicalistas que queriam reivindicar melhores condições de trabalho, pois a cada greve que acontecia, os patrões ameaçavam importar mais mão de obra, enfraquecendo os sindicalistas. Portanto, seria preciso existir uma instituição que unisse trabalhadores de diversos países para coordenarem os seus movimentos sindicais.

A AIT é mais conhecida com a Primeira Internacional e dela faziam parte, sindicalistas ingleses, proudhonistas franceses, republicanos italianos e marxistas alemães. A Internacional foi representada por Karl Marx. Uma das principais reivindicações da I Internacional era a redução da jornada de trabalho para oito horas.

Karl Marx tentou fazer com que a Comuna de Paris fosse considerada uma herança política da Associação Internacional dos Trabalhadores. A Comuna foi instituída pelos operários em 1871, mas durou apenas dois dias. Entre umas de suas medidas após a revolta popular estava a "abolição do sistema da escravidão do salário de uma vez por todas". Essa iniciativa assustou os governos de toda a Europa por conta da possibilidade de novas insurreições em outros países.

A Primeira Internacional ainda foi alvo de disputas ideológicas entre seus membros: De um lado, os marxistas, liderados por Karl Marx, e do outro, Bakunin , o principal representante do Anarquismo. Este último levou a um racha, em que os países latinos se aliaram aos anarquistas e os anglo-saxões aos marxistas.

Karl Marx ainda tentou mudar a sede da Internacional para Nova Iorque, por ser longe da Europa, entretanto, por conta de diversos problemas de organização, a Associação Internacional dos Trabalhadores deixa de existir em 1876, na Filadélfia.

Os anarquistas acreditavam no Socialismo libertário. Para eles, o sistema capitalista e o Estado mantêm a desigualdade social através da força, ao garantir para poucos a propriedade sobre os meios de subsistência de todos.

O sistema socialista dos anarquistas lutava para que a posse dos meios de produção fosse garantida a todos aos que trabalhassem. Neste sistema, não haveria necessidade de nenhuma autoridade ou de governo, visto que também não haveria necessidade de impor privilégios de uma classe sobre outra. A sociedade seria gerida por associações democráticas, formadas por todos, e dividindo-se livremente, com entrada e saída livre, em cooperativas e estas, em federações.

No Brasil, entre fins do século XIX e início de XX, o movimento anarquista se fortaleceu com a grande chegada de imigrantes trabalhadores europeus. Em 1889, Giovani Ross , um anarquista, tentou fundar em Palmeira, no Paraná, uma comunidade baseada em idéias anarquistas como o trabalho, a vida, o não reconhecimento civil e religioso do matrimônio, entre outras.

Em 1889, em Paris, foi criada a II Internacional, com correntes operárias e sociais democratas, dessa vez, com uma maior influência do marxismo. Uma de suas principais bandeiras era a luta contra a guerra. Durante a Primeira Grande Guerra, em 1914, as divergências dividem o movimento.

De acordo com o livro Socialismo e as igrejas, a social democracia seria representada pelos partidos socialistas da II Internacional. Segundo Luxemburgo (1905), após a traição das direções da social democracia, ao apoiarem a burguesia na política de guerra imperialista, o termo social-democrata teria sido identificado com os partidos oportunistas e reformistas “sem reformas”, ou seja, seriam os partidos operários com verniz de socialista que usariam a classe operária unicamente para os seus interesses.

Na década de 1950, em oposição ao totalitarismo na URSS, a social democracia teria dado mais um esforço para resgatar o exemplo da década de 1920, a social democracia como uma representação do “socialismo democrático”.

Ainda em Luxemburgo (1905), a atual social democracia não defenderia nenhum tipo de socialismo, democrático ou não, e sim a propriedade privada e a política do imperialismo mundial em países capitalistas atrasados, através da superexploração e da guerra. O principal representante da social democracia foi Karl Kautsky.

A expressão do socialismo também foi muito utilizada por Vladimir Lênin na política durante a revolução socialista de outubro, em 1917, na qual implantou-se o socialismo como sistema de governo político na Rússia.

Em 1919, após a revolução russa, foi criada a III Internacional Comunista, mais conhecida como “Komintern”, na qual visava criar a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, além de incentivar a criação de partidos comunistas em todas as partes do mundo, como o PCI (Partido Comunista Italiano), o PCP (Partido Comunista Português), o PCB (Partido Comunista do Brasil – atual Partido Comunista Brasileiro), entre outros, como seções internacionais nesses países.

A URSS influenciou diversas culturas em todos os continentes do mundo, ajudou com dinheiro, cursos, armas e assessoria aos movimentos dedicados a revoluções na África e América Latina, libertou grande parte da Europa dos nazi-fascistas, inclusive o povo da Alemanha nazista na década de 1940, esta última com grande influência do governo de Josef Stalin.

Stalin foi secretário geral da URSS após a morte de Lênin, em 1922, e só saiu em 1953, após a sua morte aos 73 anos. É considerado por muitos opositores do comunismo e também por uma considerável parcela do movimento comunista mundial como um dos maiores ditadores da história da humanidade, ao lado de Benito Mussolini e Adolf Hitler.

O dirigente soviético foi acusado de ter matado cerca de 10 milhões de pessoas.
Há também uma vertente comunista que ainda defende um ponto de vista diferente, de que apesar de todos os problemas que a União Soviética teve enquanto este governou o país, Stalin soube administrá-los de maneira que não afetasse a condução do socialismo.

As organizações mais conhecidas defensoras dessa lógica são: o Partido Comunista da Bélgica, o Movimento de Solidariedade ao Povo Soviético - do Canadá, entre outros movimentos políticos internacionalistas.

Na década de 1940, estabeleceu-se no mundo uma política bipolar. Segundo a Super Enciclopédia Seleções, os Estados Unidos e a União Soviética emergiram da Segunda Grande Guerra como superpotências. Suas ideologias opostas direcionaram a política internacional durante 45 anos. Com a ameaça dos dois lados de uma guerra nuclear, porém descartada por conta dos riscos.

Essa época foi conhecida como Guerra Fria, a qual foi caracterizada por posicionamentos políticos, espionagem e guerras por procuração travadas em outros territórios. Winston Churchill usou o termo Cortina de Ferro pela primeira vez, em 1946, para se referir à diferença entre EUA e URSS.

A impressa dos países desenvolvidos capitalistas investiu em propaganda difusora de sua ideologia. Segundo Nilson Lage, na União Soviética e na China, os jornais favoráveis ao governo dos socialistas passavam de cerca de dez milhões de exemplares diários. Na Inglaterra e França, os números ultrapassavam seis milhões de exemplares.

A imprensa brasileira vinha bem atrás por conta de ser um país com problemas sociais, que tinha apenas cerca de 60 milhões de leitores durante a década de 1960 (Lage, 1979).
Sabendo do poder que os comunistas dispunham em suas mãos com relação a sua influência na esquerda, a elite brasileira, além de diversos governos da América latina, apóiam o golpe militar para conter o avanço dos movimentos sociais em diversos países, inclusive no Brasil.

Por base no chamado Livro Negro do comunismo. Crimes, terror e repressão, no qual expõe problemas desse sistema econômico aplicado nos países do mundo socialista, Roberto Campos defende os aspectos positivos da ditadura militar na América Latina. Ele afirma que é sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que, no auge dos anos 60, este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: "anos de chumbo" ou "rios de sangue do comunismo”.

Portanto nessa política ostensiva, combinada à nossa condição de ex-colônia, setores progressistas, mesmo não sendo socialistas, começaram a lutar também contra a ditadura militar no Brasil. Pode-se então analisar que um dos maiores operadores neste sentido em nosso país foi o JB – Jornal do Brasil, que inclusive abrigava em suas redações diversos comunistas, durante a ditadura militar. Esta que perduraria até meados da década de 1980, com o fim da ditadura do Figueiredo, e com a vitória da transição pactuada de poderes entre as elites brasileiras, de acordo com Antonio Carlos Mazzeo (1999).

Ainda segundo o Livro Negro do Comunismo. Crimes, terror e repressão, o regime é acusado de crimes individuais, massacres pontuais e circunstanciais, que teria realizado para assegurar o Poder, o crime de massa como verdadeiro sistema de governo (O Livro Negro do Comunismo. Crimes, terror e repressão, diversos autores, editora Bertrand Brasil, 1999).

Todavia, a URSS foi responsável por um dos maiores projetos sociais da história, como a eliminação do analfabetismo. Segundo Konstantin GrunWald, em 1978, na URSS não existia mais analfabetismo. Pelo menos toda a população adulta tinha ao menos a instrução primária. Todas as crianças eram obrigadas a freqüentar a escola e aproximadamente setenta por cento dos estudantes tinham uma bolsa de estudos.

Na década de 1970, a taxa soviética de crescimento anual chegava a 10,9 % ao ano, a URSS ocupava o segundo lugar na produção industrial e o primeiro lugar da Europa (GRUNWALD, Konstantin, Pequena história das grandes nações, pg. 122, 1978).

A URSS enviou o primeiro satélite ao espaço, o Sputnik, e também o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika. Anos depois, o primeiro homem, o metalúrgico Yuri Gagarin. E hoje, no Afeganistão, a Rússia envia o primeiro astronauta brasileiro, Marcos Pontes, ao espaço, com a tecnologia criada na época do socialismo. A própria base de lançamento foi batizada de Yuri Gagarin, em homenagem ao soviético.

A bipolaridade entre os EUA e URSS trouxe muitos gastos para os dois lados. Na década de 1980, a economia soviética está estagnada e começa-se a discutir a possibilidade de uma aproximação maior com o Ocidente capitalista. Em 1985, Mikhail Gorbachev se tornou líder da URSS. Ele tentou modernizar o socialismo soviético sob as bandeiras da Perestroika e da Glasnost.

Segundo Luiz Fernandes, em seu livro URSS - Ascensão e Queda, devido pressões inflacionárias, principalmente por falta crônica de bens de consumo, o agravamento do desemprego, do endividamento soviético, que aconteceu pelo não pagamento dos paises devedores como a Polônia, a Hungria e o Brasil, além da pressão do crescente do capitalismo sobre a URSS, foram fatores determinantes para que os Estados Soviéticos começaram a abandonar à União (FERNANDES, Luiz, URSS – Ascensão e Queda, 1991).

A pressão vinda do leste capitalista, assim como as próprias pressões da URSS por reformas acabaram por derrubar um dos maiores símbolos de divisão entre duas ideologias no mundo, o Muro de Berlim, em 1989.

Em agosto de 1991, ocorre uma tentativa de golpe, liderada pela KGB e por membros do governo soviético, que estariam insatisfeitos com os rumos políticos da Perestroika na URSS e seqüestram Gorbachev em sua casa de campo na Criméia. O golpe é reprimido dias depois com a prisão de seus articuladores.

Em dezembro, a União Soviética deixa oficialmente de existir, dando lugar a CEI – Comunidade dos Estados Independentes, com a inclusão da Rússia e o socialismo foi esquecido por grande parte da esquerda mundial.

No cenário internacional, seria visível a confusão das esquerdas por parte da escola política que a União Soviética representava para os socialistas. É propagada hoje, a alternativa da terceira via, que denota o fim do Estado e a ascensão das Ongs.

Para Zygmunt Bauman, essa ausência de um mundo não mais bipolarizado, mas sim globalizado, é chamada de “nova desordem mundial”. Para ele, antes do colapso do bloco comunista, a natureza contingente errática e volúvel do estado das coisas global não era tão inexistente, mas retirada do foco de reprodução diária do equilíbrio entre as potências mundiais, que consumia as energias e pensamento (BAUMAN, Zygmunt, Globalização: As conseqüências humanas, pg, 65, 1999).

O mundo não pareceria mais uma totalidade e sim, um campo de forças dispersas, díspares e foras de controle. A Globalização é a ausência de um centro, de um painel de controle já que ninguém mais parece estar no controle.

Ainda em Bauman, os conceitos de “Civilização”, “desenvolvimento”, “convergência”, “consenso”, entre outros termos do pensamento moderno inicial e clássico, e a idéia de “universalização” transmitiam a esperança, a intenção e a determinação, de se produzir a ordem – a produção da ordem numa escala universal e verdadeiramente global.

Nada de como foi formulado anteriormente teria restado no significado da globalização. Os efeitos globais não pretendidos e imprevistos passariam a ocupar o lugar das iniciativas e empreendimentos globais. Assim, a globalização não diria respeito a que todos nós, talentosos e empreendedores, desejamos fazer e sim, ao que está acontecendo a todos.




Célio Azevedo - Jornalista e cientista político.