Os Saberes da educação do futuro


A Era Planetária


O autor Edgar Morin chama a atenção para a era da globalização no Século XX, que, como bem lembra, começou na verdade no século XVI, com a colonização da América e a integração de toda a humanidade. Esse fenômeno, que estamos vivendo ainda hoje, de intensa integração mundial, em que o mundo é cada vez mais um todo, apresenta-se como uma realidade que a educação ainda não tocou, e que deveria tocar. O mesmo diz o autor sobre os problemas mundiais, como poluição, miséria etc., assim como a aceleração dos fatos históricos, dada a aceleração das comunicações e dos transportes. Tudo isso faz parte da realidade atual e não está recebendo a devida atenção da educação.

Estudar, desde a escola básica, os fenômenos atuais, especialmente o fenômeno da globalização, é da maior importância, neste momento histórico, porque se está construindo um destino comum para todos os seres humanos.


"A educação do futuro deve ter como prioridade ensinar a todos a ética da compreensão planetária. Chega de se pensar somente sob o indivíduo, família ou gênero, Estado ou grupo de Estados."


Outro aspecto que o autor considera importante ensinar é o crescimento de situações de ameaça letal ao planeta, como, segundo ele, a ameaça ecológica. Ainda que haja uma tomada de consciência desses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda a nenhuma decisão efetiva. Por isso, faz-se urgente a construção de uma consciência planetária, através da educação.

Por outro lado, o autor afirma que a compreensão dessa realidade emergente requer um certo afastamento dela, para olhá-la a distância, o que significa deixar o tempo passar. Mas, alerta o autor, atualmente, isso é impossível, dada a aceleração e a complexidade do mundo contemporâneo.

De qualquer forma, faz-se necessário estudar também essa dificuldade. É necessário ensinar que não é suficiente reduzir a complexidade dos problemas importantes do planeta a um só problema global. Cada problema, como a demografia, a escassez de alimentos, a ecologia, a de ser estudada em si mesma, além de seu conjunto, pois os problemas estão todos interligados uns aos outros.

Segundo o autor, daqui para frente os perigos de vida e morte para a humanidade tendem a se agravar, inclusive pela ameaça do desencadeamento de nacionalismos exacerbados por determinadas religiões. Para evitar tais ameaças, ensina o autor, é preciso mostrar que a humanidade vive agora uma comunidade de destino comum. E isso há de ser feito na escola.

O destino planetário do próprio gênero humano é, enfim, uma realidade até agora ignorada pela educação. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no Século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem se converter em um dos principais objetos da educação.

Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no Século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias. Tudo isso sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marcou o Século XX – e que agora marca o Século XXI –, mostrando que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante com os mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum.


O Legado do Século XX, a herança de morte, as armas nucleares, os novos perigos, a morte da modernidade



“Somos todos filhos do cosmos, mas nos transformamos em estranhos através de nosso conhecimento e de nossa cultura”.

Durante o século XX, o mundo ficou dividido entre duas correntes de poder econômico, social e ideológico, por um lado, os EUA como potência mundial reafirmando a sua influência pelos demais países do mundo, determinando o modo capitalista de vida, por um outro, os países do bloco socialista liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, tentando disseminar o comunismo pelo mundo.

Dos milhares de mortos de judeus e democratas mortos em campos de concentração nazistas, que queriam construir uma “raça pura”, e dos soviéticos, que queriam construir o socialismo, havia também o conflito inevitável entre esses dois poderes só poderiam coexistir pacificamente às avessas, já que os dois lados deste mundo dividido em dois fabricavam intensamente armas atômicas gerando medo e incerteza a milhares de pessoas no mundo, já que uma guerra nuclear poderia destruir toda a espécie humana.

O legado desta disputa nos deixou a compreensão de que a evolução humana é o crescimento do poderio da morte. Assim, para ultrapassarmos este período que Morin chama de barbárie é preciso reconhecer a sua dupla herança, a herança da morte e herança do nascimento. 
 
Nos dias de hoje, além do risco de uma guerra nuclear, enfrentamos vários perigos como o aquecimento global, a degradação do meio ambiente, o fim da camada de ozônio, assim como o mundo enfrenta também os problemas com o aparecimento da AIDS, uma pandemia que mata milhões de pessoas no mundo já faz décadas.

A morte ganhou espaço em nossas vidas, os sentimentos autodestrutivos que já existiam de maneira latente, foram enfim ativados em decorrência do uso de drogas pesadas que aliviam a solidão e a angústia, causadas por um mundo onde cada vez mais se incentiva a competição.

Edgar Morin nos faz compreender que não há leis da História que nos guiem inevitavelmente a algum lugar ideal, a um porvir radiante, e que nenhum trunfo democrático pode, de maneira alguma, ser assegurado em definitivo, que o desenvolvimento industrial pode ser nocivo ao meio ambiente do planeta e à cultura e que a civilização do bem-estar pode gerar ao mesmo tempo o mal-estar. Dessa forma, se pensarmos dessa maneira ainda é porque esta modernidade está morta.

Célio Azevedo.
Jornalista e Analista Político.