O Legado do século XX


“Somos todos filhos do cosmos, mas nos transformamos em estranhos através de nosso conhecimento e de nossa cultura”. Edgar Morin


Durante o século XX, o mundo ficou dividido entre duas correntes de poder econômico, social e ideológico, por um lado, os EUA como potência mundial reafirmando a sua influência pelos demais países do mundo, determinando o modo capitalista de vida, por um outro, os países do bloco socialista liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, tentando disseminar o comunismo pelo mundo.

Dos milhares de mortos de judeus e democratas mortos em campos de concentração nazistas, que queriam construir uma “raça pura”, e dos soviéticos, que queriam realizar o comunismo, havia também o conflito inevitável entre esses dois poderes só poderiam coexistir pacificamente às avessas, já que os dois lados deste mundo dividido em dois fabricavam intensamente armas atômicas gerando medo e incerteza a milhares de pessoas no mundo, já que uma guerra nuclear poderia destruir toda a espécie humana.

O legado desta disputa nos deixou a compreensão de que a evolução humana é o crescimento do poderio da morte. Assim, para ultrapassarmos este período que Morin chama de barbárie é preciso reconhecer a sua dupla herança, a herança da morte e herança do nascimento.

Nos dias de hoje, além do risco de uma guerra nuclear, enfrentamos vários perigos como o aquecimento global, a degradação do meio ambiente, o fim da camada de ozônio, assim como o mundo enfrenta também os problemas com o aparecimento da AIDS, uma pandemia que mata milhões de pessoas no mundo já faz décadas.

A morte ganhou espaço em nossas vidas, os sentimentos autodestrutivos que já existiam de maneira latente, foram enfim ativados em decorrência do uso de drogas pesadas que aliviam a solidão e a angústia, causadas por um mundo onde cada vez mais se incentiva a competição. Edgar Morin nos faz compreender que não há leis da História que nos guiem inevitavelmente a algum lugar ideal, a um porvir radiante, e que nenhum trunfo democrático pode, de maneira alguma, ser assegurado em definitivo, que o desenvolvimento industrial pode ser nocivo ao meio ambiente do planeta e à cultura, e que a civilização do bem-estar pode gerar ao mesmo tempo o mal-estar.

Dessa forma, se pensarmos dessa maneira ainda é porque esta modernidade está morta.


Celio Azevedo - Jornalista, Filósofo e Docente Superior.