A Imprensa no Brasil e o Capitalismo

A evolução da Imprensa do Brasil está diretamente relacionada ao advento da Corte de D. João, que fez com que parte da imprensa brasileira surgisse com a proteção oficial do reino. O jornal Gazeta do Rio de janeiro é fundado no dia 10 de setembro de 1808, defendendo a corte.

A história do jornalismo brasileiro também é marcada por revoluções, Hipólito José da Costa funda o jornal Correio Braziliense em junho do mesmo ano, ou seja, três meses antes da fundação do Gazeta do Rio de Janeiro. O jornal publicado em Londres pregava a independência do Brasil de Portugal e entrava escondido nos porões dos navios que transportavam mercadorias e escravos (SODRÉ, 1999).

Até 1999, a data de fundação da imprensa brasileira era comemorada no dia 10 setembro, em referência ao Gazeta do Rio de Janeiro. Hoje, a comemoração acontece no dia primeiro de junho, dia da fundação do Correio Braziliense.

Porém, para se analisar a imprensa brasileira, é preciso compreender o início da formação da imprensa no mundo, e que sua expansão está diretamente relacionada com o desenvolvimento do capitalismo.

Segundo João Batista Natali (2004), o jornalismo impresso, assim como o jornalismo internacional, que nos primórdios do jornalismo seria o seu único tipo, não nasceu com o capitalismo. No entanto, este o favoreceu na sua expansão pelo mundo.

O mercantilismo teria precisado do jornalismo, quando ocorreu o florescimento rápido das folhas de notícias impressas que eram vendidas a quem quisesse comprar, e não mais dentro de um mesmo conglomerado comercial e financeiro de clientes preferenciais, e sim, para um grupo indistinto de pessoas mais tarde chamadas de agentes econômicos .

Sabe-se que o jornal impresso foi uma das primeiras publicações do mundo, assim como a Bíblia. A imprensa já teria existido desde o século I, através do exemplo do Acta Diuma dos romanos, que trazia diversos assuntos, como obituários, notícias do governo e crônicas esportivas (SODRÉ, 1999).

Lage (1987) diz que a imprensa, como um todo ou em grande parte, foi o resultado das apropriações e desenvolvimentos de recursos técnicos criados por outras culturas , ou seja, a imprensa já existiria como possibilidade material muito antes da exigência social que a fez brotar.

A primeira publicação em papel teria sido inventada na China, o Notícias Diversas, que foi formado em 713 D. C, em Pequim. Em 1041, lá foi inventado também o tipo móvel, porém a iniciativa não conseguiu se espalhar pelo mundo, pois o alfabeto chinês seria muito mais complexo que o latino. (SODRÉ, 1999).

O papel já era conhecido e usado nos países orientais, Pi Cheng já utilizava caracteres tipográficos móveis de cerâmica entre 1040 e 1050, depois, passaram a fazer o mesmo no Turquestão até 1280. Os primeiros jornais foram publicados na Alemanha, seriam os Avvisi, que eram folhas manuscritas, assim como as Zeitungem, nos séculos XIII e XIV (SODRÉ, 1999).

Portanto, a afirmação de que a imprensa não existia antes de Gutenberg é contestável. Segundo Sodré, todas as invenções, como a de Gutenberg, resultaram de uma necessidade social-capital, que o desenvolvimento histórico gerou e que estava vinculado à ascensão da burguesia em seu sentido mercantilista (SODRÉ, Nelson, História da Imprensa no Brasil, pg. 2, 1999).

A imprensa do século XV possuía apenas interesse a elementos de classes e camadas numericamente reduzidas, o desenvolvimento da imprensa teria sido rapidamente desenvolvido, porém, facilmente controlado pelas autoridades do governo, ou seja, o "establishment".

No entanto, poderosas forças econômicas empenharam-se em debilitar esse controle estatal, eram as forças do capitalismo liberal em ascensão: o princípio de liberdade de imprensa, que foi antecipado na Inglaterra e que seria encontrado, então, tanto na Revolução Francesa quanto no pensamento de Jefferson nos EUA, que correspondia aos anseios da Revolução Americana (SODRÉ, 1999).

A ascendente burguesia da época precisava expandir sua influência pela Europa, a fim de derrubar o feudalismo e instaurar o capitalismo no mundo. Necessitava-se de heróis que personificassem os ideais da sociedade moderna que nascia, sendo Gutenberg, um bom exemplo de empreendedor.

Ainda em Lage (1987), o mais antigo predecessor do jornalista moderno surgiu na Itália do século de Petrarca, os burgos da Costa Ocidental, enriquecidos pelo comércio com os navegadores árabes, desenvolveram uma forma nova de vida, baseada na concentração urbana.

A leitura e a escrita passaram, portanto, a ser ferramenta de muitos para se poder atuar em uma civilização ocidental que crescia seguindo os passos do mercantilismo, na expansão do comércio das indústrias pelo mundo.

Ainda em Natali (2004), em seu livro Jornalismo Internacional, é fundada na França, em 1835, por Charles Havas, a primeira agência de notícias - a atual AFP. A agência servia para a tradução de informações publicadas por outros jornais europeus e para uso dos jornais franceses. Depois esta teria passado a captar as informações com equipes próprias para reportagem.

Em 1851, o alemão Paul Julius Reuter, que era funcionário da AFP, centralizou em Londres, para uso da imprensa econômica, informações na Europa continental. Tempos depois, passou a captar informações dos Estados Unidos para uso dos assinantes europeus. E assim, nascia a Reuters (NATALI, 2004).

A agência foi a primeira a noticiar o assassinato do presidente Abraham Lincoln. A notícia vinha por malote e através do navio. Como a situação em Washington estava intensa, a agência interceptou a notícia quando o barco do correio ainda estava no litoral da Irlanda, de onde a notícia teria sido transmitida a Londres por telégrafo, o que se constituiu em um grande furo (NATALI, 2004).

Em 1848, nos Estados Unidos, seis jornais de Nova York haviam feito um "pool" para cobertura de eventos como o da guerra dos EUA e México, que resultou na anexação de várias regiões como a Califórnia, Nevada, Arizona, entre outros aos EUA. Segundo Batista Natali (2004), esse pool teria se chamado Associated Press, ou AP, que funciona até os dias de hoje .

No século XX, a mídia impressa se globaliza e entra na era das grandes corporações. Na era do metacapitalismo, os jornalistas teriam de sofrer calados muitas vezes para seguir toda a orientação da linha editorial que o veículo adota. Mais claramente, podemos dizer que a mídia impressa em geral opera em função dos anunciantes e dos seus interesses políticos e econômicos.

Estas empresas, que por serem sociedades anônimas ou limitadas, possuem donos com opinião política e as difundem, já que as decisões aplicadas pelo governo e outras instituições poderiam afetar os seus poderes de influência sobre a opinião pública.

O caráter de formação do Estado brasileiro teria se dado de uma forma pactuada entre as elites brasileiras, o establishment da época. A situação é, por exemplo, muito diferente do que aconteceu na Inglaterra e na França, onde que a sociedade participou mais ativamente das decisões nacionais.

Assim, a sociedade brasileira nunca teria participado ativamente dos acontecimentos transformadores no país que resultaram na imprensa de hoje, tendo assumido então uma posição política passiva.

Célio Azevedo – Jornalista e Docente Superior.