A crise e a queda do PCB em 1992


Com a crise no bloco socialista na década de 1980, que culminaria na queda do muro de Berlim, em 1989, e com o fim da União Soviética, em 1991, a então maioria da direção nacional se voltara a negar todo o ideário adquirido durante o auge das experiências socialistas, agora derrotadas pela sucessão dos acontecimentos do que chamaram de "golpe da burguesia" sobre o instrumento de luta do proletariado, a organização do partido comunista.

O Partido Comunista Brasileiro que, desde quando terminara o período do governo militar, de 1979 a 1980, após a maioria do comitê central ser morta (por apoiarem a luta armada), trouxe de volta antigos dirigentes exilados no exterior, muitos com as concepções do eurocomunismo, o que daria uma cara de partido social-democrata durante toda a década.

Após a sua legalização, durante o período de aplicação das teses da Perestroika na União Soviética, o partido se concentrou principalmente na campanha pela 'redemocratização do Brasil', com a formação da Constituinte de 1988 e as eleições presidenciáveis de 1989, porém o ponto dramático do partido se viria a constituir no programa de formação de alianças, além do erro anterior do partido ter preferido o apoio a CGT - uma central sindical considerada por eles como"internacional e liberal", ao invés da CUT no movimento sindical em 1984, e o descompromisso de parte da militância com suas publicações e do fraco resultado nas eleições.

Em 1992, de caráter forçado pela sucessão dos fatos ocorridos nas experiências socialistas, houve um divisor de águas na história da esquerda brasileira, na qual os comunistas acabariam sendo vencedores nessa disputa, com a saída de grande parte desse grupo e da minoria dos militantes para a formação de um novo partido político, o atual PPS.

Para entendermos melhor esse divisor de águas é preciso analisar que essa não foi a primeira tentativa de se dissolver o partido comunista além da primeira proposta ter sido pronunciada na antiga União Soviética em 1956, por ocasião do seu XX Congresso. No IX Congresso do PCB, em 1990, os "liquidacionistas" tentaram, só que a proposta havia sido derrotada por 95% do Congresso, menos de 30 votos.

Reconhecidos de que não iriam conseguir convencer a maioria da militância partidária, o mesmo grupo chamado pelos comunistas de "liquidacionistas", liderado por Roberto Freire e Sérgio Arouca, tentaram manipular essa maioria elegendo delegados que não eram do partido para um outro congresso extraordinário, o de 1992, o então chamado de “X Congresso”, que permitia o voto até de pessoas filiadas a outros partidos.

Não reconhecendo o caráter de legitimidade, baseada inclusive na prática do centralismo democrático, deste congresso, os comunistas pcbistas fundam o Movimento Nacional em Defesa do PCB, que realizaram uma conferência nacional, presente em 10 estados e mais de 200 delegados, que resultaria em duas palavras de ordem: “Não a liquidação do PCB!” e “Vamos reorganizar os Comunistas!”.

No dia do “X congresso” reuniram 500 delegados e decidiram pela conferência de reorganização do Partido Comunista Brasileiro, logo após os comunistas saíram em passeata em direção ao local do congresso, para expor os motivos de ruptura, convocando os outros militantes para se juntarem à conferência.

Logo após, com o nome temporário de PC - Partido Comunista, como reserva para que depois "recuperassem a legenda, o símbolo e caráter histórico" do Partido Comunista Brasileiro, e com a maioria dos militantes, os comunistas tiveram de dar início à batalha para a obtenção do registro definitivo, que dava direito partido disputar novamente as eleições.

A partir de então, os militantes tiveram de se organizar em diversas partes do país para poderem obter o registro para que o partido pudesse voltar a disputar eleições, filiando militantes em todo o Brasil.

A campanha de filiação era para atender às exigências do TSE - a filiação em 20% dos municípios de 9 estados – que começou em 1994. Foram exigidos "muitos sacrifícios" da direção e da militância, tanto em nível pessoal quanto financeiro, mas foi completada com êxito no final de 1995.

No final do ano de 1995, o partido conseguiu recuperar o registro e no ano seguinte, pôde disputar as eleições, elegendo um vereador, elaborando uma linha programática para o Brasil.

Nos últimos anos, o partido vem se reconstruindo, participando cada vez mais dos espaços políticos brasileiros e dos movimentos sociais, bem como em sindicatos, no movimento estudantil, aumentando cada vez o seu espolio comunistas brasileiros, com militantes que até então entravam na organização por sua antiga postura da década de 1980.

A direita então precisa estar alerta ao crescimento do movimento comunista no Brasil, a fim de evitar-se uma nova Cuba na América Latina. Infelizmente, o movimento comunista ainda não acabou. Apenas se reformulou mimeticamente sob uma nova forma, funcionando como uma antítese dialética em cima daquilo que eles mesmos criaram.

Anacrônicos ainda se vestem da maneira antiga, mas os atuais donos do poder hegemônico são bem piores que os antigos socialistas, já que fica difícil para leigos identificarem suas reais intenções comunistas.


Célio Azevedo é Jornalista.